Quando minha maior inimiga sou eu
Quando minha maior inimiga sou eu – Não, esse título não está equivocado!
É exatamente isso que quero dizer e esta frase demonstra um dos erros comuns que cometemos quando se trata de relacionamento humano.
Ah… nada mais complexo e desafiador que lidar com pessoas. É cansativo lidar com pessoas melindrosas ou estouradas no ambiente de trabalho, com parceiros indiferentes e egoístas, com filhos insatisfeitos e ingratos. É cansativo demonstrar paciência, respeito, cuidado para não magoar o outro, quando na verdade estamos querendo explodir, colocar para fora nossas opiniões e descontentamentos. Nada mais desagradável que representar o tempo todo, fingindo que estamos bem, quando estamos a ponto de explodir.
Mas por que esse exercício de convivência é tão desafiador?
Simplesmente porque atribuímos ao outro a responsabilidade pelo que estamos pensando ou sentindo, quando o que parece uma falha do outro, expõe a fraqueza que não queremos carregar. É fácil olhar para a nossa insatisfação e apontar o dedo, encontrar um culpado, seja na circunstância ou nas pessoas à nossa volta. Por que algumas situações doem tanto? Por que determinadas atitudes incomodam a tal ponto de nos tirar do sério? Por que algumas palavras ferem mais quando parecem até inofensivas?
Se estamos tristes, alguém provocou a dor. Se não tivemos êxito em alguma tarefa é porque alguém não colaborou, se não temos amigos é porque estamos sendo ignorados. Sempre o olhar, para fora, para o externo, para além de nós mesmos.
Eu mesma passei longos anos contanto nos dedos os relacionamentos mais próximos. Quando morava no mesmo prédio que minha irmã, ficava desapontada quando não era convidada para os jantares de sábado à noite. Estranhei a falta de convites para casamentos de colegas de trabalho e para tantas outras atividades corriqueiras de quem tem muitos relacionamentos. Até que olhei para mim e percebi minha tendência ao isolamento. Eu não convidava amigos para frequentar minha casa, não celebrava aniversários, faltava na maioria dos compromissos sociais e fazia questão de ser e parecer uma pessoa reservada.
Meu convite hoje é olharmos para dentro. Olhar para nossa responsabilidade, para o estado das coisas e da vida. Como já dizia Sartre, “não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”. Quais são os aprendizados deixados pelas decepções? Quais foram as suas escolhas? O que te trouxe até aqui? Quando fazemos esse movimento, automaticamente temos uma perspectiva nova sobre nós mesmos. É como se subíssemos mais um degrau de experiência, de resiliência, de músculo para a vida. Tão terrível quanto uma crise é sair dela sem ter aprendido nada. Pura perda de tempo e de lágrimas. Alice Ruiz tem um texto lindo, transformado em música na bela voz de Rogéria Holtz, que diz “a cada mil lágrimas, sai um milagre”! Para mim, esses milagres são as transformações forjadas em choro e aprendizado?
O milagre que eu quero é o da transformação de mim mesma. É a expansão da consciência para além da busca de culpados para minhas frustrações. Que brincadeira é essa…. quem disse que seria fácil? Pelo contrário, há um verso bíblico afirmando que teríamos aflições em nossa breve passagem por aqui.
Isso não é nenhuma lamentação. É fato concreto e administrável.
Aliás, nem imagino como seria uma vida sem desafios, sem alvos, sem sonhos a serem conquistados. Deve ser so boring (pelo menos nos filmes, eu acho maçante a rotina de realeza, embora reis e princesas tenham problemas também). Aqui, no reino dos comuns é mais divertido. A gente faz festa de aniversário com salgadinhos e fica feliz da vida. Sem desafios, não dá pra saborear a conquista. Quando tudo estiver bem, provavelmente não estaremos mais aqui e eu ainda pretendo ficar por um bom tempo!!
Mira Graçano | Coaching e Treinamentos de Comunicação
Crédito da imagem: alquimiadaalma.com.br/o-ego